domingo, 18 de janeiro de 2009

Escutatória => pra mim...

Leia com calma e silêncio...
É algo para se pensar seriamente!

E no meu caso, reeducação vai bem!
Minha ansiedade, em completar palavras do outro...

De dar logo a "devolutiva" ou "complemento" do assunto exposto.
Abraços/Ná...



ESCUTATÓRIA - do escritor mineiro RUBEM ALVES

Sempre vejo anunciados cursos de oratória. Nunca vi anunciado curso de escutatória.
Todo mundo quer aprender a falar. Ninguém quer aprender a ouvir.
Pensei em oferecer um curso de escutatória, mas acho que ninguém vai se matricular.

Escutar é complicado e sutil. Diz Alberto Caeiro que "não é bastante não ser cego para ver as árvores e as flores.
É preciso também não ter filosofia nenhuma".

Filosofia é um monte de idéias, dentro da cabeça, sobre como são as coisas.
Para se ver, é preciso que a cabeça esteja vazia.

Parafraseio o Alberto Caeiro:
"Não é bastante ter ouvidos para ouvir o que é dito; é preciso
também que haja silêncio dentro da alma".

Daí a dificuldade: a gente não agüenta ouvir o que o outro diz sem logo dar um palpite melhor, sem misturar o que ele diz com aquilo que a gente tem a dizer.

Como se aquilo que ele diz não fosse digno de descansada consideração e precisasse
ser complementado por aquilo que a gente tem a dizer, que é muito melhor.

Nossa incapacidade de ouvir (ler também... ler esse texto, por exemplo...) é a manifestação
mais constante e sutil de nossa arrogância e vaidade: no fundo, somos os mais bonitos, mais inteligentes...

(Os pianistas, antes de iniciar o concerto, diante do piano, ficam assentados em silêncio,
abrindo vazios de silêncio, expulsando todas as idéias estranhas).

Tenho um velho amigo, Jovelino.
Ele contou-me de sua experiência com os índios. Reunidos os participantes, ninguém fala. Há um longo, longo silêncio. Todos em silêncio, à espera do pensamento essencial. Aí, de repente, alguém fala. Curto. Todos ouvem. Terminada a fala, novo silêncio. Falar logo em seguida seria um grande desrespeito, pois o outro falou os seus pensamentos, pensamentos que ele julgava essenciais.
***
São-me estranhos. É preciso tempo para entender o que o outro falou. Se eu falar logo a seguir, serão duas as possibilidades.

Primeira: "Fiquei em silêncio só por delicadeza. Na verdade, não ouvi o que você falou.
Enquanto você falava, eu pensava nas coisas que iria falar quando você terminasse sua (tola) fala. Falo como se você não tivesse falado".

Segunda: "Ouvi o que você falou. Mas isso que você falou como novidade eu já pensei há
muito tempo. É coisa velha para mim, tanto que nem preciso pensar sobre o que você falou".

Em ambos os casos, estou chamando o outro de tolo, o que é pior que uma bofetada. O longo silêncio quer dizer: "Estou ponderando cuidadosamente tudo aquilo que você falou".
E assim vai a reunião.

Não basta o silêncio de fora. É preciso silêncio dentro. Ausência de pensamentos. E aí, quando
se faz o silêncio dentro, a gente começa a ouvir coisas que não ouvia.

Eu comecei a ouvir.

Fernando Pessoa conhecia a experiência, e se referia a algo que se ouve nos interstícios
das palavras, no lugar onde não há palavras.

A música acontece no silêncio. A alma é uma catedral submersa.

No fundo do mar - quem faz mergulho sabe - a boca fica fechada.
Somos todos olhos e ouvidos. Aí, livres dos ruídos do falatório e dos saberes da filosofia, ouvimos a melodia que não havia, que de tão linda nos faz chorar.

Para mim, Deus é isto: a beleza que se ouve no silêncio. Daí a importância de saber ouvir
os outros: a beleza mora lá também.

"Comunhão é quando a beleza do outro e a beleza da gente se juntam num contraponto."
***
*

Um comentário:

Sabores e Encantos disse...

Olá adorei se quiser me seguir , bjs